quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Morre uma estrela...

Foto: Miro

     Desde sempre conheci Hebe. Pela TV, claro. Quando eu nasci, ela ja estava ali ha muito tempo e soh saiu na semana passada, para morrer. Para descansar. Se bem que eu acho que ela nao queria descansar, nao. Acho que ela queria mesmo era continuar a viver como viveu ate dois anos atras; sem doenca, rindo, se divertindo, trabalhando, ajudando as pessoas e fazendo a historia da TV.

     Houve uma epoca, em que falar que gostava e assistia Hebe era 'cafona', pra quem nao era coroa. Gente nova pensava assim. Lembro-me de um aniversario meu, que pegaram no meu pe porque eu disse que a assistia. E nao vou dizer aqui que assisti pra dizer como era, nao. Eu assistia porque gostava. Gostava de ver aquela mulher, ja com seus 60 anos de idade, receber pessoas em seu sofa e perguntar 'desavergonhadamente', no sentido de so dar bola pra sua propria autenticidade, o que queria saber dos outros. E olha que isso foi muito antes dela lancar a moda quase epidemica do selinho.

     A questao e que Hebe nao dava bola pros intelectuais, apesar de admira-los, ou para o politicamente correto. Ela era autentica e pronto. Isso bastava a ela e quem nao quisesse ver seu programa que trocasse de canal.

     Foi assim que Hebe ajudou a escrever a historia de TV brasileira junto com Boni, Walter Clark e outros figuroes que realmente entendiam daquela maquina e do efeito causado nas massas. So que nenhum deles se expos tanto quanto ela.

     Quando fiz jornalismo na PUC, berco do "in" carioca, resolvi fazer umas duas materias num curso de verao pra me adiantar na formatura. Uma delas era sobre TV e o professor passou alguns documentarios para que nos, filhos da ditadura, entendessemos como tudo comecou em Sao Paulo. Lembro-me direitinho que Hebe deu todo seu depoimento num jardim, sentada numa escada, com aquele seu coque tradicional. Quando ela aparecia, ainda falando com os dentes mais trincados, como antes, todo mundo ria. Riam tanto, que esqueceram de ouvi-la. E assim nao entenderam nada do que o professor queria. O preconceito falou mais alto e ninguem ali entendeu sua importancia naquela historia.

     O que sempre me fascinou nela foi o fato de viver a vida intensamente. Ela adorava seu trabalho, mas adorava o resto tambem. Talvez por isso trabalhasse tao bem. A verdade e que nao fez uma sucessora. Se fosse o caso, quem estaria pronta a assumir seu programa? Talvez Astrid Fontenelle, mas acho que o despudor de Hebe era parte de seu sucesso. Voltando as entrevistas, ela nao se incomodava de dar algum fora pois nao havia pesquisado o assunto, tentado saber de quem se tratava. Ela entrava. Depois que descia os degraus de cena, acontecia o que tivesse de acontecer.

     Astrid e mais elaborada, teve maiores chances na vida e ate pela carreira que tracou nao se permitiria tamanho desapego ao que ja estudou.

     Mas o problema e que ela se foi. E pessoas como ela nao deveriam ir nunca, pois sao um grande exemplo. Dom Helder costumava citar a frase de um terceiro que dizia "Ha mortos que enterramos, outros que semeamos". No caso de Hebe, vai ser aquela pessoa que sera lembrada de uma maneira tao positiva e alegre, que o segundo pensamento sera "ah, ela morreu..."

   

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