terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Nunca vivi sem música

Desde pequena vivi cercada de música. Não eram exatamente as minhas, mas venho de uma família de músicos e o silêncio nunca foi a tônica. Ainda bem. Cresci mais um pouco e vivi as FMs nos carros em que entrava, de pai, tios de coração, etc. Música de elevador. Mas quando a gente não conhece outra realidade, aquilo é bom.

     Quando a Rádio Cidade jogou a música pop no ar na FM, com Eládio Sandoval e Fernando Mansur, tudo mudou. Eu ouvia música o dia inteiro, a minha música. Não só eu, mas toda a minha geração de colegas do colégio tinha o mesmo "sintoma": deixava vários cômodos da casa com o rádio ligado, pra ouvir o tempo todo mesmo !! Eu só não ouvia música na escola. Eu me lembro que as mães faziam a mesma pergunta: "por que tantos rádios ligados ao mesmo tempo?" . Nós respondíamos a mesma coisa, sem ter combinado: pra não perder nada e ouvir o tempo todo. Naquele tempo, poderíamos escolher entre rádio, disco ou fita cassete. Eu adorava os discos do Chicago, do Cat Stevens, que aquela altura já havia virado muçulmano e mudado de nome... O Clube da Esquina... Tudo isso era muito bom, mas eu me sentia "fora" de alguma coisa quando não estava ouvindo rádio.

     Era como se os outros me proporcionassem uma experiência solitária ou egoísta, enquanto que com o rádio "eu estava ouvindo com todo mundo", não estava sozinha, e principalmente informada tanto quanto os meus amigos. O tempo passou, a revolução nas rádios FM caminhou até andar pra trás e pessoas com o meu gosto, com o meu perfil, chamado adulto contemporâneo, perdeu seu espaço no dial com os axés, funks, sambas, pagodes e tantos nomes que falam da bundinha, da polícia, disso e daquilo, nada que me interesse.

     Há alguns bons anos eu migrei para a rádio nos computadores. Perfeito... Eu tinha tudo. Trabalhava ouvindo música. Todo o tipo de música que me agradava era encontrado na internet em sua melhor forma, segmentada, organizada. Agora eu cansei de novo. Porque não quero ouvir música só pelo computador, pela televisão, onde acesso a Globo-FM ou pela fria e sofisticada escolha dos playlists. Eu quero ouvir o que todo mundo ouve, quero saber o que as pessoas escolhem. E me recuso a sair com fones de ouvido. Aí vou me sentir ainda pior. Porque acho que quando vamos pra rua, seja lá o motivo, trabalhar, passear, praia, o que for, a gente sai pra dar, pra trocar, pra expandir de alguma forma. Imagine eu dentro do carro com os ouvidos tapados para os barulhos do mundo. Já chega o celular com tantos aplicativos, que eu adoro e uso com goso, que as vezes me toma quilômetros de paisagem. Quando levanto o rosto vejo que andamos quarteirões e eu estava apagando incêndios olhando pra baixo, no meu celular.

     Gosto da conectividade, até da hiper conectividade, e talvez seja por isso que venha sentindo isso há muito tempo. Agora, só me resta mesmo aguardar a próxima novidade tecnológica que vai mudar ainda mais nosso comportamento. Pra que lado, nem imagino...



                                                                                                              Paola Bonelli

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