quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Canteiro de Alfaces

     Adoro cadernos. Sempre foi assim. Desde garota, queria me ver feliz, era me deixar dentro de uma papelaria sentindo aqueles cheiros maravilhosos de papel, borracha, olhando para as prateleiras e ainda mais estimulada, desta vez visualmente, por hidrocores, crayons e lapis e cor. Eu poderia ficar horas ali e me abster de tudo a minha volta para me sentir parte integrante daquele cenario. Ate hoje essa memoria emocional persiste. Se eu entrar num desses 'estabelecimentos', volta tudo e eu adoro.

     Apesar de ser totalmente integrada ao mundo da informatica e internet, com back ups em pen drives, HDs externos, etc, meu amor pelos cadernos, principalmente, continua intacto. De uns anos pra ca, resolvi coleciona-los. Tenho os mais lindos que ja vi, que comecam a me seduzir pela bela capa, sempre conferida pelo tato. E preciso sentir a textura para que a paixao se instale totalmente, tomando conta de mim e fazendo-o meu, imediatamente. Esse sentimento de posse e o melhor que existe... Nao prejudica ninguem e me preenche. Eu me sinto com mais poder, depois que pago e coloco-o na bolsa, ja totalmente dona da situacao e do meu objeto do desejo.

     Ha cerca de um ano, mais ou menos, ouvi falar em Canteiro de Alfaces. Esse nome nao me passou despercebido, achei lindo. Imediatamente tentei visualizar como seria um, urbanoide que sou. Depois, no Facebook, quando finalmente pude penetrar naquele mundo de encadernacoes, costuras, pespontos, colas, papeis dobrados em serie cuidadosamente arrematados tornando-se cadernos maravilhosos, me encantei.

     Revirei toda a pagina deles e descobri que as diferencas que existem, a pluralidade de encadernacoes e a variedade e beleza das capas. Tudo isso me chamou atencao, mas o melhor ainda estava por vir.

     Vi uma serie de desenhos com uma boneca com o cabelo tao preto como o meu, que de tao preto sempre causou estranheza na escola, desde pequena. O fato e que quando vi aquilo, entrei imediatamente em contato para saber se aquela estampa nao poderia ser minha agenda de 2013. O resultado foi ainda mais interessante, que me fez ter vontade de escrever este blog.

     O Canteiro de Alfaces e de uma moca chamada Luisa, que tem entre seus talentos nao so a confeccao dos mais belos cadernos. Trata-se de uma pessoa doce, meiga, acessivel. Em nosso contato, via inbox no Facebook, descobri uma pessoa realmente profissional, sem ficar posando disto. Meiga, aberta, segura e inteligente, Luisa tem total dominio sobre seu negocio e nos conquista com sua afabilidade e maleabilidade, que vem de encontro ao nosso gosto.







   


     A verdade e que por experiencia propria, nao tenho grande admiracao por sua geracao. Tenho minhas questoes, como todo mundo, e nao acho que pessoas de sua idade sejam, num apanhado geral, como ela. Determinada, organizada, Luisa faz bonito com o que faz, tanto no trabalho quanto no atendimento.


 

   Apos receber minhas encomendas, fiz mais. E vou continuar fazendo enquanto ela estiver neste oficio tao raro, de forma tao simples.






     Agora esta lancando uma serie do artista plastico Luiz Carlos de Carvalho, a quem admiro muito. Gosto muito de sua obra, em especial das caligrafias que faz sobre o corpo humano, pintado. Ja sei qual sera minha proxima encomenda.







     Quis saber como ela comecou. Contou-me que o Canteiro ja tem 3 anos e meio. Nasceu em 13 de maio de 2009, a pedido de amigos, que ja deviam ter descoberto o potencial da moca antes dela propria... Como costurava roupas, achou que papel nao seria problema. E nao foi mesmo. Virou solucao.

     Recomendo uma visita. O unico perigo e que voce fique absolutamente encantado e comece a fazer a sua colecao de cadernos. O que nao e nada mal...

domingo, 2 de setembro de 2012

Pra que tudo isto ?

     Existem horas que as coisas parecem encadearem-se perfeitamente. Vamos ouvindo uma notícia após a outra, embora não necessariamente da mesma "editoria", digamos assim, que nos levam a pensar na mesma coisa.




      Com certeza, a grande bomba veio da notícia tão bizarra quanto assustadora do quão longe ele pôde ir para tornar-se um ganhador. Ele ganhava as provas, mas nunca foi um vencedor. Pode parecer uma mera troca de palavras, mas não é. Pode-se mentir para o mundo, mas para nós mesmos fica muito difícil. Porque durante todo o tempo em que ele manipulou seus resultados alternando substâncias proibidas e transfusões de sangue, só para simplificar a questão, ele sabia de tudo isso. Ele era um perdedor . E ele sabia disso o tempo todo !! Então eu me pergunto que satisfação pode ter um homem destes, um pseudo esportista, em ganhar sabendo que não era melhor do que os outros. Afinal, o esporte trata diretamente de superação. Quantos e quantos casos já acompanhamos desde sempre das várias contusões de tantos atletas em treinos, jogos sem importância, cirurgias, que os tiraram do páreo do grande ideal olímpico...?



     Não escolhi estas fotos por acaso. O marketing de Lance era muito grande. Seus gestos grandes que pareciam dizer: você pode, faça como eu, persista !! Tudo mentira !! Neste ponto já paro para pensar que bom cliente para um  psicanalista ele seria. Porque isso é coisa de gente louca. Manipular o corpo, e principalmente a saúde desta forma, é de uma irresponsabilidade incomensurável. Porque Lance Armstrong não é um ignorante, não ignora determinado assunto, neste caso, até onde isso lhe prejudicaria a saúde e a vida.

     Sempre achei o câncer a pior das doenças também por tudo que trás com ele. Por isso mesmo, sempre comentei com os mais chegados, que me impressionava muito ver pessoas que passaram pela doença e suas dificuldades e saíram da mesma forma. Na minha cabeça, isso não existia, porque há de haver uma reflexão, uma introspecção, uma realização da própria vida. Avalia-se quem foi até aquele momento, o que vai mudar se passar por aquele mau momento, enfim, mudanças de personalidade haveria de surgir para tornar aquela pessoa num ser melhor.

     Armstrong passou por tudo isso, criou uma Fundação que ajuda pessoas com esta doenaça, curou-se, voltou a competir e não entendeu nada da vida. Não entendeu que o importante é estar vivo e saudável e poder fazer algo por si e por seu semelhante. O resto é o resto. Escreveu uma biografia notável, sucesso absoluto, narrando mentiras em cima de mentiras. Escrevendo isso já estou começando a achar que ele deve ter um fator psicopata qualquer.



     Sem dúvida, alguma série de recalques o habita, porque essa obsessão só pode ser pra ser aceito, pra provar algo pra alguém, pro mundo.

     Antes de saber disso, vi duas ótimas matérias, de Elisabeth Pacheco e Teté Ribeiro sobre a Exposição Sombra Negra que a fotógrafa Patrícia Kaufmann inaugurou em São Paulo e que já citei num podcast e numa outra postagem nesta coluna. A artista plástica estuda a Barbie desde 2004 e dessa vez manifestou seu intuito de provar o que acredita com fotos belíssimas da boneca em fotos bem sexuais e provocantes para questionar, acordar, cutucar nosso entendimento e gerar elaborações a respeito da questão da escravização do feminno, de todo este esquema que promove a ditadura  da beleza contra a mulher, fazendo-a acreditar que está atendendo a um padrão estabelecido, quando na verdade só está se escravizando. No bom português, fazendo papel de boba, achando que corresponde aos interesses de um mundo que pode vir a lhe proporcionar sucesso na carreira, no amor, aceitação social e tudo o mais que se segue. Por isso, Patrícia a considera um importante ícone do Século XXI. Presumo que esta afirmação quer dizer que continuaremos com esta dicotomia absurda: de um lado, independentes com dupla e tripla jornadas, resultado de algo que conquistamos (Graças a Deus!), e de outro, sofrendo mais do que nossas avós, porque não tinham seu próprio ofício, não trabalhavam, não permeavam o mundo masculino, mas também não precisavam se encher de silicone, botox, ácidos hialurônicos, metacrilato à exaustão e a preços fora da realidade que na maioria das vezes estragam definitivamente seu rosto, e pior, sua expressão, sua identidade.


 
     Vamos pensar nisso com carinho e promover o debate. Alguma coisa tem de mudar. Não podemos mais conformarmo-nos de viver numa sociedade tão fútil e frívola, onde só o que parecemos ter ou ser vale alguma coisa. A indústria por trás disto é muito grande e muito forte. Mas basta uma tomada de decisão individual para começar a mudar tudo isto.

     Eu não cheguei a ler a Biografia de LA, porque nçao a encontrei em ersão digital. Melhor. Agora eu estaria me sentindo traída e tendo gasto meu tempo à toa. Da biografia arrebatadora à verdade, ele é apenas um homem comum que precisa de ajuda. Muita ajuda.